Experimentando Brasília de uma maneira diferente: Conhecendo a quadra modelo
Quando um turista se programa para conhecer Brasília normalmente faz o tour tradicional, principalmente pelo Eixo Monumental, onde estão as principais atrações turísticas da cidade. Outras atrações da capital federal que não estão nesse local também são comuns no roteiro dos viajantes, incluindo a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. Mas quem chega para visita-la não imagina que ali do lado existe uma atração importante: a quadra que foi construída para ser modelo para todas as outras da cidade. Conhecer a 308 sul é entender um pouco do projeto apresentado por Lucio Costa para o plano de ocupação da cidade, mas essa experiência fica ainda melhor com as explicações do anfitrião do Experimente Brasília no tour Superquadra Experience.
Conhecer esse projeto com um insider guide especializado é entender um pouco mais não só do projeto inicial da cidade planejada, mas compreender o estilo de vida de quem mora no Plano Piloto (região de moradia central da cidade), além de compreender um pouco da história e evolução da cidade que tem tamanha importância que é Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade da UNESCO. Foi essa oportunidade que tivemos na última viagem a cidade, a convite do Experimente Brasília.
O tour começa justamente na famosa igrejinha, que foi projeta por Oscar Niemeyer a pedido da primeira dama Sarah Kubitschek para cumprir uma promessa feita a Nossa Senhora de Fátima para o restabelecimento de saúde de uma filha do casal presidencial. Em formato de chapéu de freira o local impressiona por sua arquitetura modernista, sua beleza e simplicidade. No interior, depois de uma reforma, o painel original de Alfredo Volpi foi substituído por um do artista Francisco Galeno. Apesar da polêmica do novo painel, que substituiu a imagem de Nossa Senhora com menino Jesus no colo por uma imagem da santa com uma pipa para simbolizar as crianças que viram a santa na cidade de Fátima (Portugal), o local continua atraindo visitantes e moradores. Do lado de fora, ainda, um dos mais famosos trabalhos de Athos Bulcão é certamente um dos pontos mais fotografados da cidade. Ali começa a ser explicado, aproveitando um mapa localizado ao lado, um pouco da organização da cidade e de como as quadras das asas Sul e Norte deviam ser projetadas, conforme projeto de Lucio Costa.
A igreja é apenas uma parte do que estava projetado para ter a cada quatro quadras, afim de facilitar a vida dos moradores locais. Além de um templo religioso, cada grupo de quadras teria ainda escolas públicas, playground para as crianças, jardins para deixar o ambiente mais agradável, biblioteca e comércio nas chamas “entrequadras”. Cada aspecto desse projeto é explicando enquanto visitamos a 308 sul (quadra modelo) e podemos observar o que era planejado para a vida dos moradores da cidade, além de entender que parte desse projeto inicial se tornou inviável com o passar do tempo e as mudanças acontecidas na sociedade ao longo dos anos. Um exemplo é que as escolas públicas, que na época da construção da cidade eram de qualidade, hoje são frequentadas por alunos que não moram nas quadras – locais de classe média. Também é possível entender que a construção das outras quadras não seguiu o planejamento inicial, mas que alguma das principais características ainda são preservadas em todas as quadras da cidade. O gabarito de seis andares, por exemplo, foi criado para que todos os andares tivessem de sua janela uma visão das árvores, garantir a circulação de vento da cidade, e ainda por essa altura ser a máxima em que uma mãe consegue falar do seu apartamento com um filho que está brincando nas quadras (curioso, não é mesmo?).
Aliás as características sociológicas fazem parte de todo o projeto. Como o vão aberto do primeiro andar para que as pessoas possam circular livremente pelas quadras (o que garante ainda a circulação melhor de vento) e aumentar assim a segurança. O playground e jardins, que nessa quadra foram projetados por Burle Marx, foram cuidadosamente projetados para incentivar a criatividade das crianças e brincadeiras lúdicas – como as árvores trepadeiras próximas aos espaços infantis para que os pequenos moradores pudessem subir nas árvores – e ainda tornar o ambiente mais agradável com muitas árvores e lagos artificiais que deixam mais agradável o clima seco da cidade.
No passeio é possível ainda conhecer detalhes de arquitetura dos projetos dos prédios. A parte social dos apartamentos, virada pra parte nobre da quadra, tem janelas de vidro do teto ao chão para integrar os moradores com o que acontece na rua; enquanto a parte de serviço tem o cobogó (tradicional nos prédios brasilienses) que serve para iluminar e ventilar os apartamentos mas deixando essa área não visível para quem está fora do prédio. Ainda que os prédios deveriam ter piso preto no andar térreo, para que o contraste com o branco dos pilares e do restante do prédio desse a impressão de que o mesmo estive flutuando.
É no mínimo curioso entender um pouco sobre isso tudo, e certamente é a melhor maneira de entender um pouco mais da característica única da cidade. Esse passeio me apresentou uma Brasília diferente daquela que costumamos ver, e me deu a certeza que experiências como essa nos faz ficar muito mais próximos do estilo de vida da cidade que estamos visitando. Uma maneira especial de conhecer uma parte diferente da capital federal que indico para todo mundo que estiver planejando uma viagem para lá. Outra dica para quem estiver indo para Brasília é ficar hospedado no Windsor Brasília Hotel, que nos recebeu muito bem nos dias que ficamos por lá.