Entrevista: Ernesto Viveiros de Castro – diretor do Parque Nacional da Tijuca

Ernesto Viveiros de Castro, 38 anos, é biólogo e desde 2004 trabalha com Parques Nacionais. Desde 2012 é chefe do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. Sempre curtiu viajar para lugares com natureza exuberante, e nos últimos anos teve a chance de conhecer várias áreas protegidas no Brasil e no mundo. Nascido na França e crescido no Rio de Janeiro, já morou também em Maceió (AL), Teresópolis (RJ),  Brasília (DF) e ainda tem planos de morar e conhecer muitos lugares.


MV: Qual a sua maior viagem? Por quê?
E: A próxima! A sensação de começar a descobrir um lugar, pesquisar sobre os atrativos e especialmente os Parques (sou viciado…) e imaginar como será já a maior viagem.
Entre as que já fiz posso destacar África do Sul, Zimbábue, ​México, Peru, Nova Zelândia e várias no Brasil​.

MV: Qual local você ainda não conheceu, mas gostaria de conhecer?
​E: Na minha lista estão em destaque Galápagos, Sudeste Asiático, Egito e Monte Roraima, mas gostaria de conhecer todos os lugares do Mundo. Cada lugar tem algum aspecto interessante e roubadas também sempre rendem boas histórias. Se me chamarem, vou até pra Mauritânia​

MV: Como você planeja as suas viagens?
E: Me interesso por um destino principalmente a partir de relatos de amigos ou contatos profissionais. Aí ​pesquiso na internet, compro um bom guia impresso e faço um roteiro básico. O roteiro é meio livre e nunca reservo hospedagem com muita antecedência, somente para chegada em grandes cidades. Em lugares pequenos sempre prefiro chegar e escolher onde ficar e quantos dias permanecer, dependendo do clima do lugar e do que descubro para fazer no local. ​Alugar carro é sempre uma opção que te dá maior autonomia e independência e muitas vezes faço trechos maiores de avião, trem ou ônibus e alugo carro para percorrer as regiões de interesse. Um trechinho de bicicleta também dá um gostinho diferente na viagem. Sempre que possível levo uma barraca pequena e saco de dormir. Isso dá ainda mais autonomia e opções de parar em lugares lindos, mas sem estrutura.

MV: No Brasil, qual o Parque Nacional que você mais gostou de conhecer? Por quê?
​E: A competição é duríssima. Quase todas as paisagens do Brasil mais incríveis​ estão protegidas ​nos Parques Nacionais.​ Para citar um menos óbvio escolho o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no norte de Minas. São cavernas gigantescas, entre as maiores do país, com formações e espeleotemas fantásticos, rios correndo por centro e pouca gente conhece. A estrutura é bem precária, mas vale a pena.
Passei por lá em um roteiro de carro de um mês que incluiu ainda os Parques Nacionais de Sempre Vivas​, Chapada Diamantina e Abrolhos, além de vários parques estaduais e praias do litoral baiano. Outros bem isolados que merecem uma visita são a Serra das Confusões e a Serra da capivara, no sul do Piauí.

MV: E pelo mundo, qual Parque Nacional você recomendaria?
​E: São muitos parques fantásticos, mas dois que visitei recentemente e me impressionaram muito foram o Kruger, na África do Sul, e o Fiordland, na Nova Zelândia. São Parques preparados para receber diversos perfis de público, não são exclusivos para montanhistas ou apaixonados por ambientes mais selvagens.
No Kruger, você roda o Parque todo em seu próprio carro, com autonomia para parar onde quiser (sair do carro só é permitido em alguns “get out points”​) e ficar fotografando os animais que circulam tranquilamente. Não fica preso àquela estrutura de safári, que parece ônibus de excursão. A dica é ficar um dia em cada acampamento (e acampamento lá pode significar uma barraquinha ou uma cabana bem luxuosa, ao gosto do freguês) para percorrer as diferentes áreas do Parque. Boa viagem para se fazer com crianças, já que não há grandes caminhadas e elas certamente vão se amarrar em ver leões, elefantes, zebras e girafas por todos os lados.
Fiordland é um parque incrível tanto para aqueles que querem apenas dirigir por paisagens incríveis, quanto para quem quer caminhar ou remar vários dias encontrando muito pouca gente. A estrada para Milford Sound é surreal e remar dentro de um fiorde no fim do mundo com dezenas de cachoeiras caindo das paredes foi inesquecível. De quebra a chegada é por Queenstown, a cidade mais apaixonante do Mundo.

MV: Qual foi a maior furada em viagem?
​E: Difícil escolher!!! Rsrs​.
Uma vez fiquei hospedado em uma casa medieval pertencente à Universidade de Florença, que tinha sido ocupada por estudantes e militantes amigos de amigos de amigos do meu irmão. Além da limpeza não ser nenhuma maravilha, a porta do único banheiro tinha buracos para as pessoas checarem se estava ocupado (o que não impedia que entrassem) e não tinha chuveiro. Mas valeu a experiência!
​Furada séria foi ser roubado no Hostal Qori Inti,​ em Cusco, no Peru​ (​faço questão de queimar)​.  E olha que paguei 25 dólares a diária (!!), bem cara para o Perú e para o meu “padrão” de hospedagem…(rsrs). Saímos para jantar e na volta tinham entrado no nosso quarto e roubado ‘tudo” meu: casacão, luvas, óculos escuros, canivete e uma lente de fotografia. O pior é que não consegui comprar um novo casco do meu tamanho e passei o resto da viagem usando “babylook”. O pessoal do Hostal fingiu que não era com eles​. O ponto positivo foi o excelente atendimento da Policia Turística e das Oficinas de Turismo. Recomendo a quem vai ao Perú que procure a ficha dos serviços que pretende contratar nas Oficinas de Turismo. Eles registram todas as ocorrências e reclamações.

MV: Janela ou corredor?
​E: Corredor para viagens rotineiras (mais espaço para as pernas) e janela para lugares desconhecidos, para ver a paisagem.​

MV: Para os leitores que gostam de trilhas, qual você recomenda?
​E: No Rio, a Trilha Transcarioca, que quando estiver pronta cruzará toda a cidade, de Guaratiba ao Pão de Açúcar. O trecho que liga o Alto da Boa Vista à Mesa do Imperador é bem interessante e já está implantado e sinalizado. São vistas diferentes de famosos cartões postais do Rio, como a Pedra da Gávea, o Corcovado e a Lagoa.
Em outros locais do Brasil, as clássicas Travessia Petrópolis-Teresópolis, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, e o Vale do Paty, No Parque Nacional da Chapada Diamantina.​
Para os apaixonados meeesmo, aguardem o Caminho da Mata Atlântica! Uma trilha de 2500 km cruzando toda a Serra do Mar, que está sendo planejada e já tem cerca de 1.500 km “caminháveis”.​

MV: Campo, praia ou cidade?
​E: Campo e praia. Cidade só de passagem. Até gosto de conhecer museus, restaurantes etc, mas como aperitivo para ambientes naturais.​

MV: O que não pode faltar na mala?
E: Mala não! Mochila! (rsrs) Sunga, saco de dormir​ e uma barraquinha pequena. Nunca se sabe onde você vai parar em uma viagem…

MV: O que o leitor do Maior Viagem tem que conhecer em uma visita ao Parque Nacional da Tijuca?
​E: O Parque tem atrativos para todos os gostos, desde o consagrado Corcovado, até trilha muito pouco conhecidas, como a Travessia do Vale dos Ciganos. Pedra da Gávea, Floresta da Tijuca e Vista Chinesa também são obrigatórios. Pensando nas atividades, recomendo além das caminhadas, as novas trilhas de Mountain biking, no Setor Floresta da Tijuca, e o voo livre na Pedra Bonita.

MV: Uma dica de viagem para o leitor do Maior Viagem.
​E: México! Uma volta pela península de Yucatán de carro passando por ruínas maias menos conhecidas, cenotes (cavernas subterrâneas inundadas) e coroando com mergulho no Caribe mexicano.​ Comida boa, hospedagem barata e lugares incríveis. Tudo que uma boa viagem pede.​

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